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Tecnologia social e o Peabiru

Historicamente as populações tradicionais e os agricultores familiares da PanAmazônia têm pouco acesso a informações e demonstrações práticas de tecnologias sociais para as suas variadas demandas, seja para a moradia e o bem viver, as atividades econômicas, a mobilidade e a cultura e o lazer. Por outro lado, esses grupos sociais tradicionais desenvolvem tecnologias com soluções de baixo impacto e alta eficiência. A apresentação prática dessas tecnologias sociais contribui diretamente para acelerar o desenvolvimento territorial e superar a pobreza. A Tecnologia Social (TS) tem como principais dimensões: 1.Conhecimento, ciência, tecnologia: a Tecnologia Social tem como ponto de partida os problemas sociais; a TS é feita com organização e sistematização; e, a Tecnologia Social introduz ou gera inovação nas comunidades; 2.Participação, cidadania e democracia: a Tecnologia Social enfatiza a cidadania e a participação democrática; a Tecnologia Social adota a metodologia participativa nos processos de trabalho; e, a Tecnologia Social impulsiona sua disseminação e reaplicação; 3.Educação: a Tecnologia Social realiza um processo pedagógico por inteiro; a Tecnologia Social se desenvolve num diálogo entre saberes populares e científicos; e, a Tecnologia Social é apropriada pelas comunidades, que ganham autonomia; e, 4.Relevância social: a Tecnologia Social é eficaz na solução de problemas sociais; a Tecnologia Social tem sustentabilidade ambiental; e, a Tecnologia Social provoca transformação social. A Tecnologia Social contribui de forma participativa e democrática com os Objetivos do Milênio (ODM), da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre as características que são peculiares à Tecnologia Social, destacam-se a transformação social, o desenvolvimento participativo, a contextualização local, a simplicidade, o baixo custo, a replicabilidade e a viabilização de empreendimentos populares (SILVA, 2012).

O Peabiru e a Tecnologia Social O Peabiru atua em diferentes frentes, tais como a agricultura familiar, o manejo florestal não madeireiro, o manejo do solo e de agroecossistemas, a energia solar, as questões da água e do saneamento, o fortalecimento de organizações de base local, entre outras. Ao implementar uma Unidade Demonstrativa do Programa Abelhas da Amazônia em uma área rural no município de Acará, Pará, o Peabiru constatou a relevância de reunir as tecnologias sociais, num único local, onde se possa visitar os diferentes arranjos sociotécnicos para compartilhá-los com os beneficiários das iniciativas de desenvolvimento rural. Considerando que os beneficiários dessas tecnologias muitas vezes têm pouco acesso à educação formal e à assistência técnica pública, iniciativas como a do Parque de Tecnologia Social se tornam ainda mais relevantes. Com a presente proposta, o Instituto Peabiru visa ampliar a Unidade Demonstrativa do Programa Abelhas da Amazônia transformando-a em um Parque de Tecnologia Social. O público inicial é composto tanto das dezenas de milhares de famílias que vivem no meio rural nas regiões da Grande Belém e Baixo Tocantins, como dos visitantes em busca de tecnologias sociais para implementar em suas regiões. A COP 30, em novembro de 2025, apresenta-se como uma oportunidade única de disseminação dessas tecnologias e de inspiração para a realização de parques de tecnologia em diferentes regiões da Amazônia e de outros biomas. Observe-se que existem diferentes iniciativas, como a de Rio Branco, no Acre, porém o que se almeja é um conjunto de tecnologias que possa ser apresentado na forma de Parque de Tecnologia Social em diferentes territórios do Brasil e do globo.

O que é Tecnologia Social? É consenso que a Tecnologia Social (TS) tem longa história de desenvolvimento no mundo todo, envolvendo diversos grupamentos humanos. A Tecnologia Social surge em diferentes épocas e espaços sociais, de modo espontâneo e socialmente consertado quando um grupo social agencia recursos disponíveis para resolver problemas da vida cotidiana. "Tecnologias sociais são produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social" (FBB, 2021). A Tecnologia Social também é compreendida como um "conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para a inclusão social e a melhoria das condições de vida" (ITS, 2022). A Tecnologia Social são tecnologias facilmente replicáveis, livres de patentes ou de direitos para a sua utilização, que surgem da união do conhecimento popular e do conhecimento científico, em prol da busca de soluções para os problemas de grupos vulnerabilizados, e que geram transformação social. Para a professora Regina Oliveira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, o campo da Tecnologia Social na Amazônia deve ser visto como uma compilação e integração, considerando uma abordagem construtiva na participação coletiva do processo de organização, desenvolvimento e implementação. Como a pesquisadora comenta em uma publicação do Museu Goeldi , no Brasil algumas tecnologias sociais simples e de baixo custo já se tornaram políticas públicas e são amplamente conhecidas, como o programa de cisternas que, desde 2003, possibilita o acesso à água potável a centenas de milhares de pessoas que sofrem com a falta de água em diversas regiões do país, inclusive em comunidades da Amazônia. Para o Peabiru, o foco é a tecnologia dedicada principalmente ao meio rural, daí a atenção especial à agroecologia e à permacultura, entre os diferentes conjuntos de tecnologias sociais.

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